quarta-feira, 19 de setembro de 2012

PROTESTO HUMANÍSTICO


Protesto humanístico


Marx, tal como Maimonides e constatando com outros ensinamentos cristãos e judaicos – não tem como postulado uma solução escatológica; a discrepância entre o Homem e a Natureza mante-se, mas o domínio da necessidade, tanto quanto possível, é controlado pelos Homens: «Mas continua sempre a substituir o domínio da necessidade» O objetivo é «esse desenvolvimento do poder do Homem que é um fim em si mesmo, o verdadeiro reino da liberdade». A perspetival de Maimonides de que « a preocupação de todo o mundo será a de conhecer o Senhor» corresponde em Marx ao desenvolvimento do poder humano como finalidade».

Ter e Ser como duas formas diferentes de exigência encontram-se no centro das ideias de Marx sobre a emergência no novo Homem. Com eles Marx passa dos conceitos económicos para os psicológicos, que são, como vimos da discussão sobre o Antigo e o Novo Testamentos e em Eckhart, ao mesmo tempo conceitos «religiosos» fundamentais. Marx escreveu. «A propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e parciais que só sentimos um objetivo como nosso quando o temos, quando ele existe para nós sob a forma de um capital ou quando o comemos, bebemos, gastamos, abitamos, em resumo, quando de algum modo o utilizamos. Portanto, todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos através da alienação de todos eles ao TER. Foi necessário que o ser humano se visse reduzido a esta pobreza absoluta para ser capaz de gerar todo o bem-estar interior» (no conceito de ter ver Hess em Einundzwanzig Bogen).

O conceito de Marx sobre o TER e o SER está sintetizado nesta frase. «Quanto menos fores e quando menos expressares a tua vida – mais terás e maior será a tua vida alienada. Tudo aquilo que o economista te retirar em vida e em humanidade, é-te restituído sobre forma de dinheiro e bem-estar.»
O «sentido de posse» a que Marx aqui se refere é precisamente Ao mesmo «ego ilimitado» de que nos fala Eckhart, o apego ás coisas a ao próprio ego. Marx refere-se ao modo de ter existência mas não o faz em relação à posse como tal, nem à propriedade inalienada. O objetivo não é o luxo e o bem-estar como não é a pobreza; com efeito ambos (luxo e pobreza) constituem vícios para Marx. A carência total é a condição necessária para o bem-estar interior de cada um.

Em que consiste, afinal este ato de gerar? É a exposição ativa e não alienada da nossa capacidade em relação aos nossos objetivos. Marx continua: «todas as relações humanas como o mundo – Ver, ouvir, cheirar, provar, trocar, observar, sentir, desejar, agir, amar – em resumo, todos os agentes da sua individualidade são, na sua Acão objetiva (a sua Acão em relação aos objetivos) a apropriação do objetivo em si, da sua realidade humana.» Esta é a forma de apropriação do modo ser, não a do modo ter. Marx expressou esta forma de atividade não alienada na seguinte passagem.

Assumamos que o homem é o homem, e que a sua relação com o mundo é humana, que o maior pode apenas ser trocado por amor, a confiança por confiança, etc. Se quisermos apreciar arte, termos de ter uma cultura artística, se pretendermos influenciar outra pessoa, teremos de possuir capacidade de a estimular e de produzir nela um efeito encorajador, cada tipo de relação do homem com o homem ou com a Natureza terá de ter um a expressão especifica que corresponda ao objetivo do seu desejo, da sua vida individual autentica. E amarmos sem evocar o amor em troca, por exemplo, se não formos capazes de, através da manifestação do nosso amor, nos tornarmos uma pessoa amada, então o nosso amor é impotente e só nos fará sofrer.

Mas as ideias de Marx depressa foram pervertidas, talvez porque ele viveu com cem anos de avanço em relação ao nosso tempo. Tanto que ele e Engels consideraram que o capitalismo tinha atingido o limite da suas possibilidades e, portanto, que estava à beira da revolução. Mas estavam complemente enganados, como Engels viria a formar após a morte de Marx. Eles tinham transmitido os seus ensinamentos mesmo no auge do desenvolvimento capitalista e não previram que iriam ser necessários mais do que cem anos até ao declínio do capitalismo e até que a sua crise se iniciasse. Foi uma necessidade histórica que o conceito anticapitalista, propagado no ponto mais alto do capitalismo. Fosse ele completamente desvirtuado se é que este pretendia ter algum sucesso. E foi precisamente o que aconteceu.

 Os social-democratas do ocidente e os seus fortes oponentes comunistas, dentro e fora da união soviética, transformaram o socialismo num conceito meramente economicista, cujo objetivo era o máximo consumo, a máxima utilização das maquinas, khruschev, com o se conceito Goulash,  e o seu modo simplório, deixou que  a verdade viesse à superfície: o objetivo do socialismo era dar a toda a população o mesmo prazer do consumo que o capitalismo oferecia a uma minoria, a burguesia. Tanto o socialismo como o comunismo tiveram como base o conceito burguês do materialismo. Algumas frases dos primeiros escritos de Marx (foram considerados erros do «Jovem» Marx) foram         recitadas de foram tão ritualística como as palavras dos evangelhos são repetidas no ocidente.

Erick Fromm

Sem comentários:

Enviar um comentário