sábado, 16 de novembro de 2013

O MUNDO ESTÁ A MUDAR....

O mundo está a mudar a tal velocidade, que as pessoas vulgares nem se percebem da mudança. Tudo que desejamos e conhecemos é mediado e ou condicionado pelo dinheiro. A distribuição e redistribuição da riqueza produzida no mundo beneficia o capital em detrimento do trabalho, e o sistema capitalísta utilizou as crises e os crashes, não para se reformar mas para se reforçar. Nunca houve tanto dinheiro no planeta. A parte substancial desse dinheiro está nas mãos de quem controla os sistemas político e financeiro, aquilo que agora designara-mos 1%: alguns membros deste clube seleto decidiram, filantropicamente, redistribuir a sua riqueza, caso Bill Gates, Warren Buffet, Mark Zuckerberg, etc. Outros decidirão gasta-la, a concorrer a cargos públicos, como Michael Bloomberg. Ou a comprara instituições falidas como Jeff Bezoz. Outros comprarão o costume, casas, barcos, carros, joias, relógios, fatos, caprichos que beneficiam a prospera indústria do luxo. Uma peça de roupa de marca custa mais que 10 salários mínimos europeus.

Basta ler o suplemento do “Financial Times” How to Spend It (Como Gastar) para perceber que os multimilionários entraram numa espécie de twilight zone onde o tédio existencial é preenchido por brinquedos. Estes milionários conhecem-se todos uns aos outros e formam um clube transnacional. Encontram-se com regularidade e usam os ócios nos mesmos lugares e com os mesmos confortos. Um multimilionário russo gasta o mesmo dinheiro, exaltamento como o chinês. Quem beneficia? O mercado de arte, reduzido a um comércio extravagante de modas e cortesãos reluzindo no esplendor dos milionários. A indústria da moda, que alimenta e dá emprego a milhões de pessoas (quase todas mulheres mas baratas) e sustenta tanto as economias francesas e italianas como ado Bangladesh. O mercado imobiliário, onde a competição fez dispara os preços que expulsaram as pessoas e as famílias das grandes metrópoles. Os londrinos e os Nova-Iorquinos não têm e não terão dinheiro para viver em Londres ou em Manhattan.

A cidade tornou-se proibitiva e os números são escandalosos. E, Nova Iorque, a zona de Chinatown, o último reduto de emigrantes e resíduo dessa mistura, judeus e chineses, europeus e asiáticos, árabes e chineses, mafiosos e íntegros, italianos e russos, etc., está a ser retalhada e vendida a preço do ouro. As Chinatowns de Londres e de Nova Iorque serão museus decorativos no meio dos apartamentos de luxo. As favelas de Bombaim ou do Rio de Janeiro desaparecerão e não por terem sido pacificadas. Os promotores imobiliários cheiram o valor absoluto daqueles metros quadrados e o êxodo dos habitantes já começou. Os subúrbios engrossarão. Porque a vida das cidades, o e centro será ocupado pelo tal 1%, introduzindo uniformização da paisagem, dos consumos, do gosto. Muitas das casas multimilionárias de Londres e Nova Iorque estão vazias, porque os donos as compraram para investimento, lavagem de dinheiro ou para habitarem uma mês por ano.
Um dos apartamentos mais caros de Manhattan, dezena de milhões de dólares, foi comprado por uma multimilionária chinesa para um filhos que acabou de nascer.
Nos estados Unidos, em 1965, os CEO das grandes empresas ganhavam em média, 20 vezes mais que um empregado. Hoje ganham em média 270 vezes mais. E eles são apenas os executivos, cuja remuneração aumentou em média 876% entre 1978 2011. Nenhuma reforma ou regulamento dos sectores conseguiu travar isso. Os governos acompanharam a explosão e aplaudiram-na, achando que mais riqueza seria distribuída, escorrendo de cima para baixo. Aumentou o consumo extraordinário de bens, a distribuição compulsiva do planeta, a destruição de postos de trabalho e a diminuição dos salários. Não existe qualquer transparência ou escrutínio do sistema financeiro, demasiado complexo e tecnocrático para os políticos o entenderem. Os académicos, tal como os agentes políticos, foram recrutados e pagos para silenciarem a desigualdade salarial, participação na distribuição. As mulheres do Bangladesh podem arder sobe as máquinas de costura.

Com ou sem austeridade, outra ideia curiosa, este é o caminho do mundo. Todo o acesso dos bens básicos como agua e a energia ao prazer das férias ou da cultura será condicionado pela capacidade aquisitiva, que as classes baixas imitam com a cumplicidade típica da classe remedida. Parte classe baixas espoliadas dentro da sociedade de abundancia será recrutada pelos movimentos género Tea Party ou a direita de Marien Le Pen. Outra parte engrossará a legiões da esquerda mais ou menos radical, dividida pela guerrilha fratricida de saber quem é mais ou menos de esquerda, quem trai e não trai. Os outros desinteressam-se a pouco apouco da política, afastam-se, abstêm-se, sobrevivem.

In Pluma Caprichosa, Clara Ferreira Alves