O
mundo está a mudar a tal velocidade, que as pessoas vulgares nem se
percebem da mudança. Tudo que desejamos e conhecemos é mediado e ou
condicionado pelo dinheiro. A distribuição e redistribuição da riqueza
produzida no mundo beneficia o capital em detrimento do trabalho, e o
sistema capitalísta utilizou as crises e os crashes, não para se
reformar mas para se reforçar. Nunca houve tanto dinheiro
no planeta. A parte substancial desse dinheiro está nas mãos de quem
controla os sistemas político e financeiro, aquilo que agora
designara-mos 1%: alguns membros deste clube seleto decidiram,
filantropicamente, redistribuir a sua riqueza, caso Bill Gates, Warren
Buffet, Mark Zuckerberg, etc. Outros decidirão gasta-la, a concorrer a
cargos públicos, como Michael Bloomberg. Ou a comprara instituições
falidas como Jeff Bezoz. Outros comprarão o costume, casas, barcos,
carros, joias, relógios, fatos, caprichos que beneficiam a prospera
indústria do luxo. Uma peça de roupa de marca custa mais que 10 salários
mínimos europeus.
Basta ler o suplemento do “Financial Times”
How to Spend It (Como Gastar) para perceber que os multimilionários
entraram numa espécie de twilight zone onde o tédio existencial é
preenchido por brinquedos. Estes milionários conhecem-se todos uns aos
outros e formam um clube transnacional. Encontram-se com regularidade e
usam os ócios nos mesmos lugares e com os mesmos confortos. Um
multimilionário russo gasta o mesmo dinheiro, exaltamento como o chinês.
Quem beneficia? O mercado de arte, reduzido a um comércio extravagante
de modas e cortesãos reluzindo no esplendor dos milionários. A indústria
da moda, que alimenta e dá emprego a milhões de pessoas (quase todas
mulheres mas baratas) e sustenta tanto as economias francesas e
italianas como ado Bangladesh. O mercado imobiliário, onde a competição
fez dispara os preços que expulsaram as pessoas e as famílias das
grandes metrópoles. Os londrinos e os Nova-Iorquinos não têm e não terão
dinheiro para viver em Londres ou em Manhattan.
A cidade
tornou-se proibitiva e os números são escandalosos. E, Nova Iorque, a
zona de Chinatown, o último reduto de emigrantes e resíduo dessa
mistura, judeus e chineses, europeus e asiáticos, árabes e chineses,
mafiosos e íntegros, italianos e russos, etc., está a ser retalhada e
vendida a preço do ouro. As Chinatowns de Londres e de Nova Iorque serão
museus decorativos no meio dos apartamentos de luxo. As favelas de
Bombaim ou do Rio de Janeiro desaparecerão e não por terem sido
pacificadas. Os promotores imobiliários cheiram o valor absoluto
daqueles metros quadrados e o êxodo dos habitantes já começou. Os
subúrbios engrossarão. Porque a vida das cidades, o e centro será
ocupado pelo tal 1%, introduzindo uniformização da paisagem, dos
consumos, do gosto. Muitas das casas multimilionárias de Londres e Nova
Iorque estão vazias, porque os donos as compraram para investimento,
lavagem de dinheiro ou para habitarem uma mês por ano.
Um dos
apartamentos mais caros de Manhattan, dezena de milhões de dólares, foi
comprado por uma multimilionária chinesa para um filhos que acabou de
nascer.
Nos estados Unidos, em 1965, os CEO das grandes empresas
ganhavam em média, 20 vezes mais que um empregado. Hoje ganham em média
270 vezes mais. E eles são apenas os executivos, cuja remuneração
aumentou em média 876% entre 1978 2011. Nenhuma reforma ou regulamento
dos sectores conseguiu travar isso. Os governos acompanharam a explosão e
aplaudiram-na, achando que mais riqueza seria distribuída, escorrendo
de cima para baixo. Aumentou o consumo extraordinário de bens, a
distribuição compulsiva do planeta, a destruição de postos de trabalho e
a diminuição dos salários. Não existe qualquer transparência ou
escrutínio do sistema financeiro, demasiado complexo e tecnocrático para
os políticos o entenderem. Os académicos, tal como os agentes
políticos, foram recrutados e pagos para silenciarem a desigualdade
salarial, participação na distribuição. As mulheres do Bangladesh podem
arder sobe as máquinas de costura.
Com ou sem austeridade,
outra ideia curiosa, este é o caminho do mundo. Todo o acesso dos bens
básicos como agua e a energia ao prazer das férias ou da cultura será
condicionado pela capacidade aquisitiva, que as classes baixas imitam
com a cumplicidade típica da classe remedida. Parte classe baixas
espoliadas dentro da sociedade de abundancia será recrutada pelos
movimentos género Tea Party ou a direita de Marien Le Pen. Outra parte
engrossará a legiões da esquerda mais ou menos radical, dividida pela
guerrilha fratricida de saber quem é mais ou menos de esquerda, quem
trai e não trai. Os outros desinteressam-se a pouco apouco da política,
afastam-se, abstêm-se, sobrevivem.
In Pluma Caprichosa, Clara Ferreira Alves