sexta-feira, 31 de agosto de 2012


              A opção da simplicidade

A opção da simplicidade. Muitas pessoas reclamam da correria das suas vidas. Acham que têm compromissos demais e culpam a complexidade do mundo moderno. Entretanto, inúmeras vezes multiplicam suas tarefas sem real necessidade. Viver com simplicidade é uma opção que se faz. Algumas coisas consideradas imprescindíveis à sua vida, na realidade são supérfluas. Entretanto buscam coisas, as pessoas se esquecem da vida em si. Angustiadas por múltiplos compromissos, não reflectem sobre a sua realidade íntima. Esquecem do que gostam, não pensam no que lhes traz Paz.

Que adianta ganhar o mundo e perder-se a si próprio. Se as pessoas não tomarem cuidado, Ter e Parecer podem tomar o lugar do Ser. Ninguém necessita trocar carro, telemóvel constantemente, ter incontáveis pares de sapatos, sair todos os fins-de-semana que a acaba por ser rotineiro. É possível reduzir a própria agitação, conter o consumismo e redescobrir a simplicidade. O simples é aquele que não simula ser o que não é, que não dá demasiada importância à sua imagem, ou que outros possam dizer e pensar dele. A pessoa simples não calcula o resultado de cada gesto, não tem artimanhas e nem segundas intenções. Não se trata de levar uma vida inconsciente, mas reencontrar a própria infância, mas uma infância com virtude, não constrangida da vida. Uma infância sem angústias e com dúvidas de quem ainda tem tudo para fazer e conhecer.

A simplicidade não ignora, apenas aprendeu a valorizar o essencial, pequenos prazeres da vida, uma conversa interessante, olhar as estrelas, andar de mãos dadas, saborear um gelado. Tudo isso representa a simplicidade do existir. Não é necessário ter muito dinheiro ou ser importante para ser feliz. Mas é difícil ter felicidade sem tempo para fazer o que se gosta, não há nada de errado com o dinheiro ou sucesso. É bom é importante trabalhar, estudar e aperfeiçoar-se, progredindo sempre é uma necessidade humana. Mas isso não implica em viver angustiado. Se o preço do sucesso for a ausência de Paz, as coisas ficam procurando ser, uma pessoa de Valores em vez de procurar o sucesso, para trás, mais cedo ou mais tarde. Mas há tesouros imateriais que jamais se esgotam, amizades verdadeiras, um amor sincero, a serenidade da Paz de espirito… são alguns deles, prestar atenção como gastamos o tempo, analisar as coisas que valorizamos e ver se muitas delas não são apenas um peso desnecessário em nossa existência. Experimentar desapegar-se dos excessos e optar pela simplicidade, talvez redescobrir a alegria de viver.

(desconhecido)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012


                                           AMBIÇÃO

 Sempre que se aborda uma característica de personalidade ou de perfil profissional, encontra-se uma perspetiva positiva e negativa da mesma. Normalmente passa a negativa quando excessiva, isto é, quando a intensidade da mesma desequilibra.

A ambição é mais um exemplo desse fenómeno. Contudo ao nível das organizações, raramente é percebido e pressionado na vertente negativa. 

Ser-se ambicioso, desde que moderado, respeitando a ética e os outros, é um traço positivo de perfil. Na minha prática profissional vejo este item num variado e diversificado tipo de desenho de perfil.

Encontra-se sempre em atividades que implicam esforço de competitividade, de liderança esforçada por adversas características de mercado e de concorrência e, genericamente à comercialização e crescimento de negocio. Mas também tem que ser ambicioso o que investiga, para que não se deixe esmorecer pelos insucessos dos primeiros resultados, ou o que gere recursos, para conseguir ultrapassar os equívocos, mal entendidos e outros bloqueios e resistência à ação. Enfim, ser-se ambicioso ajuda muito à colocação das nossas competências ao serviço do nosso papel profissional.

A partir da ambição ganha-se força, coragem e determinação para avançar, para sair da zona de conforto e preparar a nossa própria realização. O desejo forte de conquista pessoal e de atingimento de objetivos é alimentado e conseguido através da ambição. Com ambição ganhamos energia e força anímica para lutar contra adversidades. Sem dúvida que temos que ter ambição para evoluirmos. Só assim poderemos conseguir atingir os nossos próprios objetivos. Mas há um limite à ambição. O limite é o espaço dos outros, da sociedade e da ética. A competição, tão alimentada pela ambição, é fundamental nalguns aspetos da nossa vida profissional. Mas também é nefasta quando significa a anulação dos outros, a falta de respeito pelo próximo e a ausência de entreajuda.

Na abordagem emocional dos perfis está sempre a ambição, mas “com peso e medida”. Nunca esqueçamos, no entanto, os que nos rodeiam. Há que refrear as ambições desmedida é desequilibrada pela intensidade. A pretensão e avidez sem limites, o desejo forte de fortuna, de glória, de honrarias, são normalmente acompanhados de traços de desequilibrados atitudes sociais e falhas de ética. Assim a mesma característica torna-se negativa, antissocial quase.

Por vezes encontro estes perfis, excessivos de ambição, nas organizações empresariais. O seu sucesso é normalmente meteórico e descontinuado. Acredito que nem para as personalidades menos exigentes sobre o ponto de vista ético mereça a pena, uma vez que dura cada vez menos tempo o sucesso da ambição exagerada.

 Penso que os mecanismos de controlo social e das próprias empresas, através dos códigos de conduta e boas práticas, vão desfavorecer a manutenção destes perfis. A minha sincera convicção é que a sociedade e as empresas são cada vez mais atentas a esses desvios, tendendo a conseguir controlo sobre estes e outros excessos.

Sejamos ambiciosos sempre que isso significa resiliência, esforço pessoal, espirito de conquista de objetivos pessoais que não colidem como esforço dos outros e com a ética. O que proponho com esta reflexão é que tentemos ser mais cuidadosos e precisos na abordagem deste perigoso conceito. Deixo aqui um pensamento do próprio Maquiavel: “ A ambição é uma paixão tão imperiosa no coração humano que, mesmo que galguemos as mais elevadas posições, nunca nos sentimos satisfeitos.”

(M.G. Ribeiro, psicóloga e especialista em executive search da AMROP)

terça-feira, 28 de agosto de 2012


    SOBRE A MENTIRA

            «O que és soa tão forte que não consigo ouvir
                                          O que afirmas ao contrário.»

                                                                   Emerson


Quem tem o hábito de mentir, tem um dos maiores defeitos da humanidade. À que dizer «não» a todas as mentiras, porque nada de bom se pode construir sobre a falsidade, sobre a mentira. Quem é que pode ser considerado pessoa de bem, merecedor de confiança e que os outros lhe dispensem atenção se tem por hábito mentir?

E quem pensa que, é apenas uma mentirinha, engana-se. A mentira é como a bola de neve, quando mais rola maior vai ficando.
Ao contrário da que se pensa, quem mente, a mentira engana só quem a diz.

O pensador francês, La Rechefoucaud, aos que têm o mau hábito de faltar á verdade, procurou chama-los à realidade, através desta reflexão: «É tão fácil enganar-se a si mesmo, sem se aperceber; quanto é difícil enganar os outros sem que o percebam».

Os que enveredam pelos caminhos sinuosos da mentira, mil arrependimentos hão-de ter; porque, a mentira, mais tarde, só aos mentirosos prejudica.

É do conhecimento geral que a mentira tem as pernas curtas; por isso, depois não adianta ser pródigo em juramentos.
Até parece que desconhecem o provérbio «Quem mais jura mais mente».

A mentira é o como a desgraça. Nunca vem só. Ela destrói a dignidade a integridade e acaba por ser um degrau para todos os vícios.

(Anónimo)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012


AMOR ERÓTICO


O amor fraterno é um amor entre iguais, o amor materno é um amor por alguém indefeso. Apesar das suas diferenças assemelham-se pelo fato de não serem, pela sua própria natureza, restritos a uma só pessoa. Se eu amo o meu irmão, amo todos os meus irmãos; se amo o meu filho, amo todos os meus filhos; mais do que isso, amo todas as crianças e todos aqueles que precisam de ajuda. O amor erótico é diferente de todos estes tipos de amor; é o desejo de uma fusão completa, de uma união com outra pessoa. É pela sua própria natureza exclusivo, e não universal; e talvez seja, também, a forma de amor mais enganadora quer existe.

Antes de mais, é muitas vezes confundida com a experiencia fulminante de “se apaixonar”, do súbito desaparecimentos das barreiras que existem até então entre dois desconhecidos. Mas, como já dissemos, esta experiencia de intimidade súbita é, pela própria natureza de muito curta duração. Depois do desconhecido se transformar numa pessoa que conhecemos intimamente, não há mais barreiras a vencer e não há mais intimidade a conquistar. Passaremos a nós próprios. Ou talvez deva dizer “ tão mal como a nós próprios”. Se a outra pessoa tivesse experiencia mais profundas, se pudéssemos experimentar a infinidade da sua personalidade, nunca a conheceríamos tão bem – e então o milagre de ultrapassar as barreiras teria lugar todos os dias de nova forma. Mas para a maior parte das pessoas, a própria personalidade, bem como a dos outros, é explorada e esgotada que de imediato. Para elas, a intimidade é estabelecida sobretudo através do contacto sexual. Visto que experimenta a separação da outra pessoa em primeiro lugar como uma separação física, a união significa vencer a separação.

Para além disso, há outros fatores que denotam, para muitas pessoas, o ultrapassar da separação. Falar da vida pessoal, de esperanças e de desejos, ter comportamentos infantis e estabelecer interesses comuns – tudo isto é tomado como sendo uma forma de ultrapassar a separação, mesmo uma expressão de raiva, de odio ou de uma total falta de inibição passa pela intimidade, e isto explicar a atração perversa que sente alguns casais que só parecem ser íntimos quando estão na cama ou quando estão a dar voz à sua raiva e ao seu odio que sentem um pelo outro. Mas todos estes tipos de proximidade tendem a diminuir com a passagem do tempo. E, como consequência, procura-se o amor com uma nova pessoa, com um novo desconhecido. Mais uma vez, este desconhecido transforma-se numa pessoa “íntima”, mais uma vez a experiencia de se apaixonar é emocional e intensa, até se tornar cada vez menos intensa e terminar mais uma vez com o desejo de uma nova conquista, de um novo amor – sempre com a ilusão de que com o novo amor vai ser diferente dos anteriores. Estas ilusões são mantidas pelo facto de o desejo sexual ser tão enganador.

O desejo sexual tem por objetivo a fusão – e não é de a forma alguma um simples apetite sexual tanto pode ser estimulado pelo amor como pela ansiedade da solidão, pelo desejo de conquistar ou de ser conquistado. Parece que o desejo sexual pode facilmente combinar-se com qualquer emoção forte e ser estimulado por ela – e o amor é apenas uma das muitas emoções fortes que podem existir. Mas porque o desejo sexual está associado, para a maioria das pessoas, à ideia do amor, elas são facilmente levadas a acreditar que estão apaixonadas, quando na verdade apenas sente uma atração física. O amor pode gerar o desejo de uma união sexual; neste caso, na relação física não existe qualquer ganancia nem qualquer desejo de conquistar ou de ser conquistado, mas existe ternura. Se o desejo da união física não for estimulado pelo amor, se o amor erótico não for união orgíaca e transitória. A atração sexual cria uma ilusão momentânea de união, mas sem o amor esta “união” deixa as pessoas tão distantes uma da outra como estavam antes – por vezes faz até que tenham vergonha uma da outra. Ou até com que se detestem, porque, quando a ilusão desaparece, sentem a sua separação ainda mais profundamente do que antes. A ternura não é, como Freud acreditava, uma sublimação do instinto sexual; é antes o resultado direto do amor fraterno e não existe apenas formas físicas de amor.

No amor erótico há uma exclusividade que não existe no amor materno e no amor fraterno. Este caracter exclusivo do amor erótico merece uma abordagem mais atenta. Muitas vezes é confundido com uma ligação possessiva. É muito comum encontrar duas pessoas “apaixonadas” que não sentem amor por mais ninguém. O seu amor é, na verdade, um egoísmo a dois; são duas pessoas que se identificam uma com a outra e que resolvem o problema da separação transformando o individuo único em dois. Eles têm a experiencia de ultrapassar a solidão mas, como estão separados do resto da humanidade, estão separados um do outro e alienados de si mesmo, a sua experiencia de união é uma ilusão. O amor erótico é exclusivo mas ama na outra pessoa toda a humanidade, tudo o que vive. Só é exclusivo no sentido em que encontro uma fusão interna e completa apenas com uma outra pessoa. O amor erótico exclui o amor por outras pessoas apenas no que diz respeito à união erótica e ao compromisso profundo em todos os aspetos da vida – mas não é exclusivo no que diz respeito ao amor fraterno.

O amor erótico se for amor autentico, só tem uma premissa: que eu ame do mais fundo do meu ser, e que experimente o que de mais profundo existe no ser da outra pessoas. Na sua essência, todos os seres humanos são iguais. Todos fazendo parte de uma unidade: todos somos um só. Assim sendo, identidade de quem se ama devia ser irrelevante. O amor devia ser essencialmente um ato voluntario, uma decisão de dedicar aminha vida completamente à de outra pessoa. Esta é, na verdade, a razão de ideia de indisponibilidade do casamento, e é também a razão de fundo das diversas formas de casamentos tradicionais nos quais os dois parceiros não se escolhem, missão antes escolhidos um para o outro – e contudo espera-se que se amem. Na cultura ocidental contemporânea esta ideia parece ser totalmente falsa. O amor deve supostamente resultar de uma reação emocional espontânea, de se ser subitamente tomado por um sentimento irresistível. Nesta perspetival só se consideram as particulares dos dois indivíduos em questão – e o facto de todos os homens fazerem parte de Eva. É posto de parte um fator importante no amor erótico: o fator da vontade. Amar alguém não é só um sentimento forte – é uma decisão, é uma sentença, é uma promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria fundamento para promessa de se amar para sempre. Um sentimento surge e pode subitamente desperecer. Como posso saber se ele vai permanecer, e as minhas ações não implicam alguma capacidade de discernimento e de decisão?

 Tendo em conta estes pontos de vista, poderíamos chegar à conclusão de que o amor é exclusivamente um ato voluntario e um compromisso, e que, portanto, no fundo não interessa quem são as duas pessoas que se amam. Quer o casamento tenha sido combinado por outras pessoas ou resultado de uma escolha individual, assim que o casamento tenha tido lugar, a força de vontade deveria garantir a continuação do amor. Este ponto de vista põe de parte o carater paradoxal da natureza humana e do amor erótico. Todos somos um só – e contudo cada um de nós é uma entidade única e sem igual. Nas nossas relações com os outros repete-se o mesmo paradoxo. Já que todos somos um só, podemos amar todas as pessoas da mesma maneira como um amor fraterno. Mas, na medida em que somos todos diferentes, o amor erótico exige certos elementos específicos e individuais que existem entre algumas pessoas mas não entre todas.

Ambos os pontos de vista – do amor erótico como uma atração completamente individual, única entre duas pessoa especificas, e do amor erótico como simples ato  voluntario – são verdadeiros; ou, dito de outra forma, nem um nem outro são totalmente verdadeiros. Assim sendo, a ideia de que uma relação pode ser desfeita se não resultar é tão errada quanto a ideia de que uma relação nunca deve, sob quaisquer circunstâncias, ser desfeita.

Erich Fromm in A arte de amar


sexta-feira, 24 de agosto de 2012



Amor fraterno

O tipo de amor mais fundamental, subjacente a todos os outros tipos de amor, é o amor fraterno. Este termo refere-se ao sentido de responsabilidade, de cuidado, de respeito e de conhecimento de outro ser humano, ao desejo de prolongar a sua vida.

Este é o tipo de amor de que fala a Bíblia quando diz, “ama o próximo como a ti mesmo”. O amor fraterno é o amor para dos seres humanos; é caraterizado exatamente pela sua falta de exclusividade: se eu deixar de amar os meus irmãos. No amor fraterno experimenta-se a união com todos os homens, a solidariedade humana, a comunhão humana. O amor fraterno baseia-se na experiencia de que todos somos um só. A diferença de talentos inteligência e conhecimento é coisa de somenos importância quando comparada com a identidade essencial que é comum a todos os seres humanos. Para experimentar esta identidade é necessário ultrapassar a superfície e atingir o essencial, o centro. Se eu vir outra pessoa sobretudo a superfície, vou-me aperceber mais rapidamente das diferenças, daquilo que nos separa. Se eu chegar ao essencial, ao centro do seu ser, apercebo-me da nossa identidade, da nossa irmandade. Esta relação entre centros, e não entre superfícies, é o que podemos designar por “ relação central”. Ou como Simone Weil o exprimiu de forma tão bela: As mesmas palavras por exemplo, de um homem a dizer ”eu amo-te à mulher" podem ser vulgares ou extraordinárias, dependendo da maneira como forem ditas. E esta forma depende da profundidade daquela região do ser humano de onde vêm, sem que a vontade as possas impedir. E por um maravilhoso acordo, elas atingem a mesma região em que as escuta. E o ouvinte pode discernir, se tiver algum poder de discernimento, o valor destas palavras.

O amor fraterno é o maior entre iguais, mas na verdade, mesmo como iguais nunca somos ”iguais”; enquanto seres humanos precisamos sempre de ajuda. Hoje, eu, manhã tu. Mas esta necessidade de ajuda não significa que um seja indefeso e o outro poderoso: estar indefeso é uma condição passageira; a capacidade de se erguer e de caminhar sem ajuda é a condição permanente e mais comum.
Contudo, o amor pelos indefesos e o maior pelos pobres e pelos desconhecidos é o princípio do amor fraterno. Não é uma grande conquista amar os que são carne da nossa carne. O animal ama as suas crias e cuida delas. A pessoa indefesa ama o seu mestre. Já que sua vida depende dele. A criança ama os seus pais, porque precisa deles. Só no amor daqueles que não nos servem para atingir um determinado objetivo é que o amor começa a florescer. De forma significativa, no Antigo Testamento, os objetos centrais do amor do homem são os pobres, os estrangeiros, os viúvos e órfãos, e mais tarde, os inimigos nacionais, os Egípcios e os edomitas. Na compaixão por aquele que está indefeso, o homem começa a desenvolver o amor pelo seu irmão; e no seu amor-próprio ama também aquele que precisa de ajuda, o ser humano frágil e inseguro. A compaixão implica em elemento de conhecimento e de identificação. “Vós conheceis os corações do estrangeiro”, diz o Antigo Testamento, “porque fostes estrageiros na terra do Egipto;…portanto, amai os estrageiros!

Erich Fromm (in A arte de amar)



segunda-feira, 20 de agosto de 2012



                                     CONSUMO


O apelo ao consumo é feito, desde o produtor, vendedor, banqueiros, imprensa, que aí fazem as suas fortunas, e quanto menos poder os indivíduos têm, mais estão à mercê das forças sociais, e das ideias que lhes são impostas, é uma sociedade que vive em competição permanente, vive em competição desenfreada, a pessoa que segue uma profissão é motivada em primeiro lugar por factores extrínsecos, tais como dinheiro e progressão na carreira, pelo poder e pelo prestígio hierárquico, de professora contratada, a professora efectiva, de professora a reitora, de vice-presidente, de editor-adjunto a redactor-chefe, isto é, em competição desenfreada permanente. Isto leva-nos a um estado de euforia que acabamos por mentir a nós mesmos, querer viver num mundo em que tudo é fácil, tudo é bonito, tudo é agradável, tudo isto porque necessitamos desesperadamente da aprovação dos outros.

      Por estranho que pareça, é mais fácil ser infeliz do que ser feliz, as possibilidades que temos para ser feliz são limitadas pela nossa estrutura experimental. A infelicidade é muito menos difícil, acabamos sempre presos nos recintos das nossas desgraças, porque crescem num terreno tornado árido e pedregoso por causa das frustrações da vida, instala-se em nós, de modo intenso, o medo de nos afastarmos, de ser diferente, no medo de pensar, de viver, com medo da desaprovação dos outros, de ser discriminado e condenado, acabando por nos sentirmos estranhos em nós mesmos.

     Alguém disse que, a ilusão é o maior dos prazeres, e este é o mundo da ilusão, que se entende como um apego poderoso aos bens dos outros, o desejo insaciável de riqueza, invejar os bens dos outros e desejar para si os bens do outro e não vendo que isso é cobiça

domingo, 12 de agosto de 2012


Carácter em Psicologia
É o termo que designa o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo; esta qualidade é inerente somente a uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, sua natureza e temperamento. O conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a conceção moral; seu gênio, humor, temperamento; este sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais.
Caráter é a soma de nossos hábitos, virtudes e vícios.
Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em índole ou firmeza de vontade.
O caráter de uma pessoa pode ser dramático, religioso, especulativo, desafiador, covarde, inconstante. Tais variações podem ser inúmeras.
Mas não é o caráter que sofre as influências pelo meio em que é submetido, pois o ser humano demonstra sua pessoal característica desde os primeiros dias, quiçá ainda enquanto dentro do ventre materno. O caráter é inerente do próprio espírito, e os moldes de educação, adaptação às diferentes condições e fases da vida humana apenas levam o ser às escolhas que deve fazer, obedecendo elas a esse princípio primeiro.
As culturas antigas costumavam declarar quando de uma pessoa de índole confiável: "Pessoa de caráter forte". Quando o caráter - presença inerente no ser - é forte, significa que por mais maravilhosos ou recompensadores os caminhos possam parecer, há sempre um sentimento de alerta dentro, que indica aquele como um caminho errado, mesmo que no momento possa parecer o correto.
O caráter faz ver além, nas consequências dos atos de hoje, e não pode ser adquirido ou estudado ou mesmo aprendido.
A educação e a cultura se diferem nesses valores, assim como o caráter se interfere a uma coisa e pessoas e difere das boas maneiras ou do estilo de vida que se leva. Ambos, a cultura e o estilo de vida, são transformados, adquiridos e estudados e podem ser esquecidos ou aprimorados. Mas o caráter faz desses todos seus caminhos. Escolher qual deles seguir e quais consequências irão advir só o caráter pode identificar, no momento que as decisões - de trabalho, amor, relações sociais, escolares, de amizade etc. - são tomadas.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


O  Homem nem nunca muda, nem nunca aprende.


Padre António Vieira, Sermão aos peixes.

São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa entre colonos portugueses no Brasil. Vieira toma vários peixes incluindo o polvo como símbolo dos vícios dos colonos.

O sermão pretende louvar algumas virtudes humanas e, principalmente censurar com severidade os vícios dos colonos. Este sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

Peixe roncador- soberba, orgulho e muita arrogância.

Pregadores- Parasitas, vivem na dependência dos grandes e morrem com eles.

Os voadores - Presunção e ambição.

Polvo - Traição, ataca sempre emboscado, porque se disfarça, comparado a Judas.
Parte do sermão

"O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa."

" Os pregadores não pregam a verdadeira doutrina."

"Os pregadores dizem uma coisa e fazem outra."

" Em vez de servir Cristo servem os seus apetites."

" Já que os homens não me querem ouvir que me oiçam os peixes."

"Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes mas em feras."

" Os peixes grandes comem os pequenos e até chegam a comer cardumes."

"A primeira coisa que desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros e não só vos comeis uns aos outros, senão os grandes comem os pequenos. Se fora contrário, era menos mal. Se os pequenos comecem os grandes dava para muitos pequenos. Mas como os grandes comem muitos pequenos, não bastam cem pequenos nem mil para satisfazer um grande."

"Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser peixes que se comem uns aos outros."

"Que sendo todos criados do mesmo elemento, todos cidadãos e da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer uns aos outros."

"Santo Agostinho, que pregava aos homens, para escarnecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lhe nos peixes, e em que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que vejam nos homens."

" E que maldade esta, a que Deus singularmente chama maldade; como se não houvera outra no mundo! E quem são aqueles que acometerem são os maiores que comem os pequenos."

"Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a plebe, e os plebeus são os mais pequenos os que menos podem, este são comidos, e não só diz que os comem de qualquer modo. Senão que os engole, os devoram."

"Porque os grandes tem o mando das cidades, das províncias, não se contentam a sua fome de comer um a um, ou poucos a poucos, senão que os devoram e engolem os povos inteiros"

"Um exército batalha contra outro, metem-se homens pelos chuços e pelas espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou com um isco. Dois retalhos de pano.