sexta-feira, 10 de agosto de 2012


O  Homem nem nunca muda, nem nunca aprende.


Padre António Vieira, Sermão aos peixes.

São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa entre colonos portugueses no Brasil. Vieira toma vários peixes incluindo o polvo como símbolo dos vícios dos colonos.

O sermão pretende louvar algumas virtudes humanas e, principalmente censurar com severidade os vícios dos colonos. Este sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

Peixe roncador- soberba, orgulho e muita arrogância.

Pregadores- Parasitas, vivem na dependência dos grandes e morrem com eles.

Os voadores - Presunção e ambição.

Polvo - Traição, ataca sempre emboscado, porque se disfarça, comparado a Judas.
Parte do sermão

"O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa."

" Os pregadores não pregam a verdadeira doutrina."

"Os pregadores dizem uma coisa e fazem outra."

" Em vez de servir Cristo servem os seus apetites."

" Já que os homens não me querem ouvir que me oiçam os peixes."

"Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes mas em feras."

" Os peixes grandes comem os pequenos e até chegam a comer cardumes."

"A primeira coisa que desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros e não só vos comeis uns aos outros, senão os grandes comem os pequenos. Se fora contrário, era menos mal. Se os pequenos comecem os grandes dava para muitos pequenos. Mas como os grandes comem muitos pequenos, não bastam cem pequenos nem mil para satisfazer um grande."

"Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser peixes que se comem uns aos outros."

"Que sendo todos criados do mesmo elemento, todos cidadãos e da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer uns aos outros."

"Santo Agostinho, que pregava aos homens, para escarnecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lhe nos peixes, e em que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que vejam nos homens."

" E que maldade esta, a que Deus singularmente chama maldade; como se não houvera outra no mundo! E quem são aqueles que acometerem são os maiores que comem os pequenos."

"Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a plebe, e os plebeus são os mais pequenos os que menos podem, este são comidos, e não só diz que os comem de qualquer modo. Senão que os engole, os devoram."

"Porque os grandes tem o mando das cidades, das províncias, não se contentam a sua fome de comer um a um, ou poucos a poucos, senão que os devoram e engolem os povos inteiros"

"Um exército batalha contra outro, metem-se homens pelos chuços e pelas espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou com um isco. Dois retalhos de pano.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário