quarta-feira, 29 de agosto de 2012


                                           AMBIÇÃO

 Sempre que se aborda uma característica de personalidade ou de perfil profissional, encontra-se uma perspetiva positiva e negativa da mesma. Normalmente passa a negativa quando excessiva, isto é, quando a intensidade da mesma desequilibra.

A ambição é mais um exemplo desse fenómeno. Contudo ao nível das organizações, raramente é percebido e pressionado na vertente negativa. 

Ser-se ambicioso, desde que moderado, respeitando a ética e os outros, é um traço positivo de perfil. Na minha prática profissional vejo este item num variado e diversificado tipo de desenho de perfil.

Encontra-se sempre em atividades que implicam esforço de competitividade, de liderança esforçada por adversas características de mercado e de concorrência e, genericamente à comercialização e crescimento de negocio. Mas também tem que ser ambicioso o que investiga, para que não se deixe esmorecer pelos insucessos dos primeiros resultados, ou o que gere recursos, para conseguir ultrapassar os equívocos, mal entendidos e outros bloqueios e resistência à ação. Enfim, ser-se ambicioso ajuda muito à colocação das nossas competências ao serviço do nosso papel profissional.

A partir da ambição ganha-se força, coragem e determinação para avançar, para sair da zona de conforto e preparar a nossa própria realização. O desejo forte de conquista pessoal e de atingimento de objetivos é alimentado e conseguido através da ambição. Com ambição ganhamos energia e força anímica para lutar contra adversidades. Sem dúvida que temos que ter ambição para evoluirmos. Só assim poderemos conseguir atingir os nossos próprios objetivos. Mas há um limite à ambição. O limite é o espaço dos outros, da sociedade e da ética. A competição, tão alimentada pela ambição, é fundamental nalguns aspetos da nossa vida profissional. Mas também é nefasta quando significa a anulação dos outros, a falta de respeito pelo próximo e a ausência de entreajuda.

Na abordagem emocional dos perfis está sempre a ambição, mas “com peso e medida”. Nunca esqueçamos, no entanto, os que nos rodeiam. Há que refrear as ambições desmedida é desequilibrada pela intensidade. A pretensão e avidez sem limites, o desejo forte de fortuna, de glória, de honrarias, são normalmente acompanhados de traços de desequilibrados atitudes sociais e falhas de ética. Assim a mesma característica torna-se negativa, antissocial quase.

Por vezes encontro estes perfis, excessivos de ambição, nas organizações empresariais. O seu sucesso é normalmente meteórico e descontinuado. Acredito que nem para as personalidades menos exigentes sobre o ponto de vista ético mereça a pena, uma vez que dura cada vez menos tempo o sucesso da ambição exagerada.

 Penso que os mecanismos de controlo social e das próprias empresas, através dos códigos de conduta e boas práticas, vão desfavorecer a manutenção destes perfis. A minha sincera convicção é que a sociedade e as empresas são cada vez mais atentas a esses desvios, tendendo a conseguir controlo sobre estes e outros excessos.

Sejamos ambiciosos sempre que isso significa resiliência, esforço pessoal, espirito de conquista de objetivos pessoais que não colidem como esforço dos outros e com a ética. O que proponho com esta reflexão é que tentemos ser mais cuidadosos e precisos na abordagem deste perigoso conceito. Deixo aqui um pensamento do próprio Maquiavel: “ A ambição é uma paixão tão imperiosa no coração humano que, mesmo que galguemos as mais elevadas posições, nunca nos sentimos satisfeitos.”

(M.G. Ribeiro, psicóloga e especialista em executive search da AMROP)

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