Amor
fraterno
O tipo de amor mais fundamental, subjacente
a todos os outros tipos de amor, é o amor fraterno. Este termo refere-se ao
sentido de responsabilidade, de cuidado, de respeito e de conhecimento de outro
ser humano, ao desejo de prolongar a sua vida.
Este é o tipo de amor de que fala
a Bíblia quando diz, “ama o próximo como a ti mesmo”. O amor fraterno é o amor
para dos seres humanos; é caraterizado exatamente pela sua falta de exclusividade:
se eu deixar de amar os meus irmãos. No amor fraterno experimenta-se a união com
todos os homens, a solidariedade humana, a comunhão humana. O amor fraterno
baseia-se na experiencia de que todos somos um só. A diferença de talentos inteligência
e conhecimento é coisa de somenos importância quando comparada com a identidade
essencial que é comum a todos os seres humanos. Para experimentar esta
identidade é necessário ultrapassar a superfície e atingir o essencial, o
centro. Se eu vir outra pessoa sobretudo a superfície, vou-me aperceber mais
rapidamente das diferenças, daquilo que nos separa. Se eu chegar ao essencial,
ao centro do seu ser, apercebo-me da nossa identidade, da nossa irmandade. Esta
relação entre centros, e não entre superfícies, é o que podemos designar por “
relação central”. Ou como Simone Weil o exprimiu de forma tão bela: As mesmas
palavras por exemplo, de um homem a dizer ”eu amo-te à mulher" podem ser
vulgares ou extraordinárias, dependendo da maneira como forem ditas. E esta
forma depende da profundidade daquela região do ser humano de onde vêm, sem que
a vontade as possas impedir. E por um maravilhoso acordo, elas atingem a mesma região
em que as escuta. E o ouvinte pode discernir, se tiver algum poder de discernimento,
o valor destas palavras.
O amor fraterno é o maior entre
iguais, mas na verdade, mesmo como iguais nunca somos ”iguais”; enquanto seres
humanos precisamos sempre de ajuda. Hoje, eu, manhã tu. Mas esta necessidade de
ajuda não significa que um seja indefeso e o outro poderoso: estar indefeso é
uma condição passageira; a capacidade de se erguer e de caminhar sem ajuda é a
condição permanente e mais comum.
Contudo, o amor pelos indefesos e
o maior pelos pobres e pelos desconhecidos é o princípio do amor fraterno. Não é
uma grande conquista amar os que são carne da nossa carne. O animal ama as suas
crias e cuida delas. A pessoa indefesa ama o seu mestre. Já que sua vida
depende dele. A criança ama os seus pais, porque precisa deles. Só no amor
daqueles que não nos servem para atingir um determinado objetivo é que o amor
começa a florescer. De forma significativa, no Antigo Testamento, os objetos
centrais do amor do homem são os pobres, os estrangeiros, os viúvos e órfãos, e
mais tarde, os inimigos nacionais, os Egípcios e os edomitas. Na compaixão por aquele
que está indefeso, o homem começa a desenvolver o amor pelo seu irmão; e no seu
amor-próprio ama também aquele que precisa de ajuda, o ser humano frágil e
inseguro. A compaixão implica em elemento de conhecimento e de identificação. “Vós
conheceis os corações do estrangeiro”, diz o Antigo Testamento, “porque fostes estrageiros
na terra do Egipto;…portanto, amai os estrageiros!
Erich Fromm (in A arte de amar)
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