domingo, 11 de novembro de 2012

A nossa triste sina






“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de 
organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e  o 
engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos 
que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma 
rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela 
inveja, pela intriga, pela  vaidade, pela frivolidade e pelo 
interesse.

A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas 
vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali 
luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há 
a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; 
ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de 
nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em 
volta daquela arena enxameiam os aventureiros 
inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; 
há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o 
privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, bradase, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, 
todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali 
com dor e com raiva.

À  escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, 
ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos 
dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de 
dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”


Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora

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